por Renato Mayol
Apenas pelo raciocínio lógico não há possibilidade de alguém alçar grandes vôos em seja lá o que for - ciência, filosofia, música ou artes. Para isso, é necessário conectar-se com a fonte da criação e tornar-se um veículo para a sua manifestação. A preparação do corpo e da mente começa quando você se percebe insatisfeito com a sua vida e parte em busca do que seja realmente viver. Perdido no labirinto da terceira dimensão, em sua busca você sente medo, irritabilidade, ansiedade, pânico, fraqueza, preguiça, depressão, angústia, frustração, insegurança. Nessa situação você deve acautelar-se das tábuas de salvação que ameaçam aparecer, e quase sempre acabam revelando-se torvelinhos que levam você mais para o fundo do imenso oceano de incertezas. Acautelar-se para não cair em armadilhas que tentam readaptá-lo ao peso das correntes que o prendem dando-lhe a sensação de estar livre, mas na realidade apenas enquadrando você de novo no padrão de prisioneiro modelo. Prisioneiro que é gentilmente reconduzido ao mesmo ponto de partida. Para se libertar de fato, você terá que transcender para uma outra dimensão e um dos transportes para empreender essa viagem vertical, é a meditação.
Quem se encontra na terceira dimensão pode facilmente representar objetos dessa dimensão em um plano com somente as dimensões de comprimento e de largura, ou seja, em um plano com apenas as duas dimensões. Por exemplo, o desenho de um cubo em uma folha de papel. Porém, alguém que habita a dimensão plana e que possui somente largura e comprimento não vai perceber absolutamente nada do que se está representando. Para esse ser de duas dimensões, só pontos e linhas serão percebidos. A menos que ele consiga, de alguma forma, se abstrair e elevar-se, adquirindo temporariamente características da terceira dimensão, o que lhe permitiria vislumbrar do alto aquilo que está representado no seu plano. Do mesmo modo, na terceira dimensão pode haver coisas da quarta dimensão que somente seriam percebidas por alguém da terceira dimensão se esse alguém conseguisse adquirir, temporariamente, características da quarta dimensão.
Isso é o que a meditação, como ferramenta, propicia aos que se encontram na terceira dimensão. Para atingir o objetivo da meditação, que é a expansão da consciência, a visão lógica do mundo, criada pela integração entre os lobos frontais do cérebro e o córtex, deve ser desconectada, enquanto que as funções superiores do cérebro devem entrar em sincronia, em ritmo de ondas de poucos ciclos por segundo.
Pelo estudo da atividade elétrica do cérebro, sabe-se que ela se organiza em ondas ou em ritmos de quatro tipos: alfa, beta, delta e teta. O ritmo alfa, assim denominado por ter sido o primeiro a ser observado e registrado, reflete uma atividade elétrica organizada em ondas ou ritmos de 8 a 14 ciclos por segundo. Esse ritmo é encontrado quando o indivíduo está em repouso das funções mentais e sensoriais, num estado entre a vigília e o sono. Existem vários métodos que podem ser usados para produzir o ritmo alfa, tais como sentar-se e concentrar-se na respiração sem pensar em nada; olhar fixamente para um ponto em um recipiente com água, para uma bola de cristal ou para a chama de uma vela. As ondas alfa são naturalmente mais frequentes em crianças, que por isso têm mais visões e experiências psíquicas, mais fantasia e se regozijam em seu mundo particular, distraídas e desatentas em relação ao mundo exterior.
À medida que são expostas ao processo pedagógico de ensino padrão, passam a se guiar pelo raciocínio e pelas situações lógicas, enquadradas e robotizadas, com a predominância das ondas beta cuja frequência é superior a 14 ciclos por segundo. Por isso, voltando a ser como uma criança, é que se abrirão as portas do Céu para o homem, o que pode ser conseguido pela meditação que propicia o êxtase da comunhão do indivíduo com o Todo.
Enquanto o ritmo delta, formado por ondas entre 0,5 e 3 ciclos por segundo, caracteriza o sono, o ritmo teta correspondente a estados de relaxamento profundo, é formado por ondas entre 4 e 7 ciclos por segundo e permite experiências e sensações impossíveis de explicar ou interpretar pela linguagem verbal, mas que se incorporam à consciência do indivíduo, ampliando-lhe a percepção e criando-lhe sua própria realidade. Tal indivíduo, agraciado com esse estado de consciência superior ou consciência cósmica é o que trará a Luz onde houver trevas, para indicar a via de saída.
Meditar não é uma jornada simples e nem fácil, havendo muitos desvios que levam de volta ao ponto de partida de onde tentamos alçar vôo. Há vários métodos para tentar alcançar esse difícil estado onde se abrem as portas para a experiência cósmica, porém nenhuma técnica servirá sem um trabalho capaz de provocar mudanças interiores, mudanças de atitude frente a si, aos outros e à vida.
Há quem pense que meditação, com base na origem etimológica da palavra, é estar presente na ação, ou seja, é viver intensamente cada ato do viver. Porém são os sentidos e a mente que nos acorrentam à terceira dimensão e quanto mais alimentarmos esses vorazes guardiões, mais eles vão sempre exigir. Apenas pela interrupção do processamento dos estímulos que nos chegam pelos sentidos e pelo pensamento é que podemos nos preparar para alcançar outros estágios de percepção. Daí a importância de um recolhimento em local adequado à introspecção onde possamos desligar os sensores dos estímulos externos para ir bem além da mente para, de repente, nos encontrarmos frente ao Portal Maior, pois é somente tornando-nos vazios que nos habilitamos a ser preenchidos e arrebatados pela Força Criadora.
Muitos se perdem em devaneios e acham que estiveram meditando. Outros, sob os efeitos de alucinógenos, vêem projeções inconscientes de sua mente e apenas mergulham um pouco dentro de si mesmos. E de lá voltam ora deslumbrados, ora aterrorizados sem nunca ter adentrado um palmo sequer no plano vertical. Relatos de santos ou de arcanjos, apenas indicam que não saímos da terceira dimensão. Teremos passado para outra dimensão quando já não mais existirem nem formas e nem visões de coisa alguma e, sim, somente a percepção do Indescritível.
Parabés pelo Blog! Jamais tinha visto um tão completo! Dedicação, isso é o que falta na Educação. Fico feliz por encontrar profissionais da área que ainda atuam de forma bela e motivadora, logo nesta época que a profissão já se torna um risco.
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